Servidor Rogério Góes – Cirurgião Dentista
As sociedades modernas têm visto, ao longo dos últimos tempos, aumentar a oferta de bens de consumo, em ritmo extremamente grande. Este fenômeno atinge, também, os gêneros alimentícios, com todo o leque de benefícios e problemas que, a depender do que for consumido, podem produzir.
Procuraremos aqui, sem novamente tentar esgotar o tema, fazer uma sucinta abordagem, do ponto de vista odontológico, em relação à questão da ingestão de alimentos ácidos potencialmente danosos aos elementos dentais.
As estruturas dentais duras (esmalte e dentina) constituem-se, basicamente, de componentes minerais, em percentuais de 96% e 70% respectivamente, sendo o esmalte o tecido mais duro do corpo humano. Embora estes elementos minerais contribuam fortemente para a resistência dos elementos dentais, por vezes não conferem a eles proteção absoluta contra processos químicos de dissolução, aos quais estão sujeitos ao longo da vida de cada indivíduo. Ao processo de perda dos elementos minerais dos elementos dentais, pela ação de agentes químicos ácidos, denominamos biocorrosão dental.
A exposição constante do meio bucal à ação de ácidos leva, quase que invariavelmente, à perda progressiva destes componentes minerais, gerando lesões dos mais variados graus, sendo que muitas delas não manifestam sintomas dolorosos. Quanto maior for a acidez presente no alimento, maior será seu potencial biocorrosivo.
Dentre os alimentos sólidos ácidos mais conhecidos, podemos destacar os doces, dentre eles grande parcela dos biscoitos à venda no mercado, as frutas cítricas como maçã, laranja, limão, kiwi, e outras. Em relação aos líquidos, destacamos os chás gelados, os energéticos, a vodka, alguns vinhos e, muito fortemente, os refrigerantes, tão consumidos por crianças e adultos nos dias atuais. Para se ter uma ideia, sabe-se que o consumo destas bebidas, nos Estados Unidos, aumentou em torno de 300% nos últimos trinta anos.
Além dos muitos e já conhecidos males que causam à saúde geral dos indivíduos, julgamos importante trazer à discussão seus danos irreversíveis às estruturas dentais duras supracitadas. Os refrigerantes à base de cola, em seus mais variados tipos, inclusive os diets e lighs, são bebidas extremamente ácidas, o que lhes confere poder de destruição dental na mesma intensidade.
As lesões aos dentes, das quais aqui estamos tratando, quando apresentam sintomas, provocam, em geral, desde leve sensibilidade, especialmente quando da ingestão de certos tipos de alimentos, até a perda da vitalidade do elemento dental, com consequente necessidade de tratamento de canal, em casos mais avançados. O tratamento dependerá sempre do correto exame e diagnóstico, feitos pelo cirurgião dentista, variando em relação ao estágio em que se encontrarem as lesões.
Diante do que abordamos aqui, julgamos ser importante, além dos cuidados em relação ao que ingerimos, realizar consultas periódicas ao cirurgião dentista, ainda que nenhuma sintomatologia esteja presente, lembrando que nem sempre a inexistência de sintomas significa normalidade.